ARISTÓTELES

ARISTÓTELES

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CAPÍTULO 8

Uma qualidade é aquilo em virtude do qual as coisas são ditas ser qualificadas de certo modo. A qualidade pode referir-se a um estado ou a uma disposição, sendo que no primeiro caso a qualidade é estável e durável (ex.: conhecimento, virtudes, etc.) e no segundo é fácil de mudar (ex.: calor, doçura, etc.). Os estados são também disposições, mas as disposições não são necessariamente estados; pois aqueles que possuem estados também estão em alguma disposição relativamente a eles, mas aqueles que estão numa disposição nem sempre têm também um estado. Assim, estados e disposições são os primeiros tipos de qualidade. O segundo tipo de qualidade é a virtude de uma capacidade ou incapacidade natural. Por exemplo, ser-se pugilista, corredor, saudável, etc. O terceiro tipo de qualidade refere-se às qualidades afectivas e afecções. Por exemplo, doçura, amargura, calor, brancura... são qualidades porque as coisas que as possuem são, em vitude delas, qualificadas (ex.: o mel, por possuir doçura, é dito doce). Contudo uma adenda: as qualidades por afecção podem não ser permanentes dependendo dos casos. Pegando no caso do exemplo de brancura, esta pode gerar-se atraves de uma afecção (ou seja, quando a pessoa não é naturalmente branca e apenas o fica por causas externas, como doença ou palidez). Concluindo, quando tais circunstâncias têm origem em certas afecções permanentes e difíceis de mudar (como a pessoa ser naturalmente branca ou negra) aí sim estamos perante uma qualidade; mas aquelas que se geram a partir de algo que facilmente se dissipa e que rapidamente desaparece são chamadas afecções (como uma pessoa ficar vermelha por vergonha). Finalmente o quarto tipo de qualidade é a figura e forma exterior de cada coisa (ex.: curvatura, rectitude, etc.).
Na qualificação há também contrariedade (ex.: justiça é o contrário de injustiça); com as coisas que são ditas ser qualificadas em virtude delas passa-se o mesmo (ex.: justo, que é qualificado de justiça, é o contrário de injusto, que é o contrário de injustiça); mas não é assim em todos os casos (ex.: vermelho não tem contrário). Se um dos contrários for uma qualificação, o outro será também uma qualificação (ex.: se a justiça é uma qualificação e o contrário de injustiça, então injustiça será também uma qualificação). As qualificações admitem também mais e menos (ex.: uma coisa é dita mais ou menos branca - qualidade por afecção - que outra); contudo há casos em que tal não se aplica (ex.: um triângulo - qualificação por forma - não é mais ou menos triângulo que outro). Por último, é somente em virtude das qualidades que as coisas são ditas semelhantes e dissemelhantes.


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