ARISTÓTELES

ARISTÓTELES

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CAPÍTULO 7

Os relativos são todas aquelas coisas que são ditas ser o que são "de" ou "do que" outras coisas, ou de alguma maneira "em relação a" outra coisa (por exemplo, o maior é dito o que ele é "do que" outra coisa, pois uma coisa é mais "do que" outra). Os relativos podem referir-se a estados, conhecimentos, percepções, posições ou disposições, porque todas elas são ditas o que são "de" outras coisas (por exemplo, um estado é dito estado "de" alguma coisa, como um estado de tristeza). Os relativos podem ter também contrariedade (virtude é o contrário de vício e ambos são relativos) mas nem todos têm necessariamente um contrário (dobro não tem contrário); de igual forma, podem também admitir mais e menos (semelhante, que é um relativo, é dito mais e menos semelhante que outra coisa) mas nem todos admitem mais e menos (o dobro não é mais ou menos dobro). Finalmente os relativos são ditos em relação a correlativos que se reciprocam (o escravo é dito escravo "de" um senhor e o senhor é dito senhor "de" um escravo) mas às vezes pode haver diferenças na forma de expressão (o conhecimento é conhecimento "do" conhecível e o conhecível é conhecível "pelo" conhecimento).
Por vezes os relativos parecerão nao se reciprocar se, em virtude de um erro, aquilo em relaçãoao qual o dito relativo é dito não for adequadamente expresso. Por exemplo, se a asa é expressa como sendo "de" uma ave, a ave "de" uma asa não é recíproca: não é enquanto ave que a asa é dita ser dela mas enquando alada, pois há muitas outras coisas que têm asas e que não são aves. Assim, a correcção adequada seria que a asa é asa "de" um alado e o alado é alado "com" uma asa.
Por vezes também pode até ser necessário criar nomes quando não existe um nome em relação o qual o relativo possa ser adequadamente expresso. Por exemplo, o leme é expresso como "de" um barco, mas o barco não é dito barco "de" um leme. A solução para este caso proposta por Aristóteles passaria por criar palavras novas, ou seja, neologismos. Se as pessoas tivessem a liberdade de usar, nesta situação, o neologismo "lemado", o leme passa a ser "de" um barco que é lemado "com um leme. 
Os relativos são simultâneos por natureza. Por exemplo, o dobro e a metade existem ao mesmotempo, pois para existir a metade de algo tem que existir o seu dobro: a destruição de um arrasta a destruição do outro, pois se não existir dobro não existe metade e vice-versa. Contudo, o serem simultâneos por natureza não parece ser verdade para todos os relativos. Por exemplo, o conhecível parece ser anterior ao conhecimento e não o contrárop, pois não se pode conhecer sem que exista o conhecível: a destruição do conhecível implica a destruição do conhecimento (pois não pode haver conhecimento sem algo a conhecer) mas a destruição do conhecimento não implica a destruição do conhecível (lá por não haver conhecimento não quer dizer que o conhecível não exista, apenas não é conhecido).

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