ARISTÓTELES

ARISTÓTELES

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

CAPÍTULO 6



As quantidades podem ser discretas ou contínuas. Exemplos de quantidades discretas são os números e a própria linguagem, pois as suas partes não têm nenhum limite comum onde se unam., ou seja, não têm posição: por exemplo, no caso de um número não é possível ver se as partes têm alguma posição umas em relação às outras ou onde estão situadas fisicamente ou quais das partes se unem entre si, isto porque são conceitos abstractos, não palpáveis. Já exemplos de quantidades contínuas são uma linha, uma superfície ou um ponto, pois é possível encontrar um limite comum onde as suas partes se unem: por exemplo, as partes de uma linha têm posição no espaço umas em relação às outras, pois cada uma delas está situada algures e é possível distingui-as e dizer onde. Conclusão: isto é uma diferenciação puramente material, não abstracta ou conceptual, da mesma forma que sucedeu com a questão das coisas sinónimas, homónimas e parónimas.
Para concluir então os capítulos cinco e seis, seguem-se outras especificidades da quantidade:

1.      Não tem qualquer contrário, a não ser que alguém diga que muito é o contrário de pouco e que grande é o contrário de pequeno. Todavia isto não são quantidades, mas sim relativos.
2.      Não parece admitir nem mais nem menos (uma coisa não é mais dois côvados que a outra nem um 3 é mais 3 que um 5).
3.      É dita igual e não igual (um 3 não é igual a 5 e um 10 é igual a uma dezena).

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CAPÍTULO 5

   Entende-se por substância tudo aquilo que nem é dito de algum sujeito nem existe em algum sujeito (ex.: um certo homem, um certo cavalo...). Dentro das substâncias, contudo, podemos ter substâncias segundas, que são espécies a que as coisas primeiramente chamadas substâncias pertencem e também os géneros dessas espécies. Por exemplo, um certo homem: a espécie é homem e o género é animal, logo homem e animal são as substâncias segundas da substância "um certo homem".

            O nome e a definição das coisas que são ditas de um sujeito predicam-se necessariamente do sujeito. Por exemplo, "homem" é dito do sujeito "um certo homem" e a definição de homem predica-se de "um certo homem", pois um certo homem também é homem e um homem é um certo homem.
Quanto às coisas que existem num sujeito, nem o nome nem a definição se predicam do sujeito. Por exemplo, "branco" existe no sujeito "corpo" mas "corpo" não se predica de "branco", pois existe cor branca num corpo mas não existe um corpo na cor branca.
Todas as outras coisas, ou são ditas das substâncias primeiras como de sujeitos ou existem nelas como sujeitos. Por exemplo, "cor" existe no sujeito "corpo" e, portanto, também em "um certo corpo", pois se não existisse cor em nenhum corpo individual, não poderia de todo existir em corpo.
Conclusão: se as substâncias primeiras não existissem, nenhuma outra coisa poderia existir.

A espécie (mais específica e informativa) é uma substância segunda e é mais substância do que género (que é mais vago), pois está mais próxima da substância primeira. Por exemplo, para se dizer o que é uma certa árvore, é mais informativo dizer a espécie ("é uma árvore") do que o género ("é uma planta"). No fim, as substâncias primeiras são os sujeitos de todas as outras coisas, pois predicam-se nelas e existem nelas. Podemos dizer que as substâncias primeiras estão para as outras coisas assim como a espécie está para o género.
Das próprias espécies nenhuma é mais substância do que outra (não é mais adequado dizer de um certo homem que é um homem) nem nenhuma substância primeira é mais substância do que outra (um certo homem não é mais substância que um certo gato).
Além das substâncias primeiras, as espécies e os géneros são as únicas outras coisas que são chamadas substâncias segundas, pois elas são as únicas que revelam a substância primeira (se tivermos que dizer de um certo homem o que ele é, será adequado responder indicando a espécie ou o género). Também neste caso podemos dizer que as substâncias primeiras estão para todas as outras coisas assim comi as espécies e os géneros das substâncias primeiras estão para tudo o resto. Por exemplo, se “um certo homem” for “gramático”, então estamos a chamar “gramático” ao “homem” e ao “animal”.
É comum a todas as substâncias não existir nenhum sujeito; pois a substância primeira nem é dita de um sujeito nem existe num sujeito. As substâncias segundas, por seu turno, também não existem num sujeito. Por exemplo, “homem” é dito do sujeito “um certo homem” mas não existe um homem num certo homem.
Também a diferença não existe num sujeito: “pedestre” é dito do sujeito “homem” mas não existe num homem. A definição de diferença predica-se daquilo de que a diferença é dita: “pedestre” é dito de “homem”, logo a definição de “pedestre” também se predica do “homem”, pois o “homem” é “pedestre”.
É uma característica das substâncias e das diferenças que tudo o que é chamado a partir delas o seja sinonimicamente, pois todos os predicados formados a partir delas predicam-se ou dos indivíduos ou das espécies; assim, da substância primeira não se forma nenhum predicado e das substâncias segundas a espécie predica-se do indivíduo, o género predica-se da espécie e do indivíduo e a diferença predica-se da espécie e do indivíduo. Resta a noção de que as coisas sinónimas são aquelas coisas com o nome em comum e na mesma definição e tudo o que é chamado a partir das substâncias e das diferenças é-o sinonimicamente.
Todas as substâncias primeiras parecem significar um certo “isto” (pois a substância é individual e numericamente uma); já nas substâncias segundas “isto” não é verdade (significam uma qualificação, pois o sujeito não é um. Por exemplo, homem e animal são ditos de muitas coisas).
Uma outra característica das substâncias é não terem qualquer contrário. Por exemplo, um certo homem não tem contrário. Sei que isto pode parecer confuso, uma vez que no senso comum dir-se-ia que não, que o contrário de um certo homem seria uma certa mulher mas torno a relembrar que em Aristóteles são as coisas que são sinónimas ou antónimas e não a gramática. Um certo homem enquanto substância, enquanto “coisa”, não tem contrário, pois o homem e a mulher da espécie humana são a mesma substância.
Outra característica da substância é o facto de não admitir mais e menos: um homem não é mais ou menos homem que outro homem ou que ele mesmo.
A substância, sendo numericamente uma e a mesma, não pode receber contrários: uma cor, que é numericamente uma e a mesma, não pode ser branca e preta ao mesmo tempo; no entanto, a substância é capaz de receber contrários individualmente (note-se que atrás eu disse que uma característica da substância é não TER contrário, aqui refiro-me a RECEBER contrário, ou seja, a ser qualificada com um contrário… só para o caso de ter havido confusão): por exemplo, um homem pode ser branco ou pode ser moreno. Numa frase: a substância em si mesma não pode ter contrário como expliquei anteriormente, mas os qualificativos que fazem parte da substância já admitem contrários, mas nunca em simultâneo.

CAPÍTULO 4



Dez são os tipos de expressões que podem ser ditas sem qualquer combinação: substância (homem, cão…), fazer (cortar, correr…), quantidade (de dois côvados, um litro…), relativo (o dobro, a metade…), qualificação (branco, bonito…), onde (no Liceu, em casa…), quando (ontem, amanhã…), ser afectado (ser cortado, ser lido…), estar numa posição (estar deitado, estar em pé…) e ter (estar calçado, estar doente…). Nenhuma destas expressões dita por si mesma é uma afirmação, mas é antes pela combinação de umas com as outras que se produz uma afirmação.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CAPÍTULO 3



Sempre que uma coisa se predica de uma outra como de um sujeito, todas as coisas que são ditas daquilo que é predicado serão também ditas do sujeito (ex.: homem predica-se de um certo homem e animal predica-se de homem, logo animal predica-se também de um certo homem, pois um certo homem é um homem e também um animal).
As diferenças de géneros distintos e não subordinados uns aos outros são elas também de tipos distintos (ex.: animal e conhecimento. O animal tem como diferenças pedestre, voador, aquático, etc., mas o conhecimento não possui estas diferenças).

domingo, 16 de setembro de 2012

CAPÍTULO 2



As expressões que dizemos podem ser por combinação (ex.: “o homem corre”; “o homem vence”) ou sem combinação (ex.: “homem”; “corre”; “vence”).
As coisas que existem podem aparecer em quatro situações. Podem ser ditas de algum sujeito, mas não existirem em nenhum sujeito (“homem” é dito do sujeito “homem”, mas não existe um homem num homem), podem existir num sujeito, mas não serem ditas de nenhum sujeito (um certo conhecimento gramatical existe no sujeito “alma”, mas não é dito de nenhum sujeito), podem ser ditas de um sujeito e existirem num sujeito (o conhecimento existe no sujeito “alma” e é dito do sujeito “gramática”) e podem não existir num sujeito nem serem ditas de um sujeito (um certo homem não existe num homem nem é dito de um homem).